terça-feira, 6 de junho de 2017

O meu caminho de água gelada




















Hoje não sei quase nada, sei apenas o que a minha saudade me diz, o que a minha alma me sussurra.

Sei hoje que a minha vida é como a água, por vezes preciso de a sentir gelada para perceber que tenho que agir para a aquecer, ou que tenho (apenas) de me habituar a esse gelo. 
Esse gelo que por vezes dói, nos ossos, na pele, na cabeça, na alma...

Porque a minha vida é água.
A água que agora me escorre pela cara, leve e salgada - é tão bom poder senti-la.

A água passa-me pelos dedos, posso senti-la mas não a posso agarrar.
Tal como a minha vida passou-me "pelos dedos", ontem podia senti-la mas não podia agarrá-la, hoje posso senti-la mas não posso agarrá-la.

Corre em mim o peso do gelo, corre em mim o quente das termas...
Corre em mim a amargura da água, corre em mim a pureza da mesma...

A minha vida é como a água, por vezes sabe mal, mas a verdade é que me é essencial.
A minha vida é como água, transparente... Cheia de boas sensações se as quiser sentir, amarga e suja quando assim tem de ser.

Talvez tenha que atravessar esse caminho de água gelada, amarga e suja, para perceber que do outro lado existe outra quente, límpida, transparente...
Essa que eu não consigo agarrar mas que posso usufruir enquanto ela não acaba. 

Pergunto-me: "E ela acaba?" - "Não sei, mas creio que não".
Depende do que para mim é acabar, se tem fim? Não! 
Se posso deixar lhe tocar um dia? Sim! 

Caminho com os pés na água suja, tanto que nem os vejo - mas eles existem, eles estão lá. Eu quero vê-los, quero só ver o aqui e agora. 

O aqui e agora  esse caminho de água gelada, amarga e suja... em certas zonas começa a aquecer... aos poucos consigo ver os meus pés.

E quando levantar a minha cabeça e não olhar apenas para os meus pés nesta água suja, 
olho o horizonte percebo que este é o caminho que tenho que atravessar para tudo se tornar mais claro para mim, mais quente para o meu coração, mais transparente para a minha alma. 

Porque a minha vida é água.

E o meu caminho é apenas isso, um trajecto traçado onde eu posso escolher sentar-me naquela rocha, e continuar a tentar observar os meus pés naquela água suja. 

E o meu caminho é apenas isso, um trajecto que eu posso decidir fazer, para que um dia ainda com os meus pés sujos, doridos, feridos de todo o caminho, eu possa sentar-me naquela rocha a olhar o horizonte, com água límpida, quente e que me aconchega.

Jamais poderia dar tanto valor a esse lado, se não tivesse atravessado o outro.

De uma coisa tenho a certeza, esse caminho, jamais o farei sozinha.

Até já filho.

A mamã